De fora da janela

Abro as janelas

Eu vejo o mesmo céu

O céu de quando eu era jovem

E olhava para a rua

Dentro dos meus próprios pensamentos

Querendo voar para longe

Que sensação estranha

É o mesmo céu

É o mesmo sol

São as mesmas nuvens

Mas não é a mesma coisa

Atravessar a rua e chegar em casa

Me sinto novo demais para sentir nostalgia

Porém me sinto velho demais para voltar

Os tempos nunca fora tão bons

Porém não era bons como são agora

O dinheiro que faltava

A vinda árdua da escola

A fome até de tarde

Queria poder atravessar a rua mais uma vez

Para a casa da minha mãe e poder dizer

''Eu cheguei''

Como o tempo voa

Corre e passa rápido

Hoje 20 e amanhã 40

Depois sem pai e mãe

Me torno o pai e me caso com a mãe

Que vida há de ser daqui um tempo?

Preocupações que todo jovem menino tem

O trabalho que ainda não tem

O dinheiro que falta

O tedioso emprego que terá

Sinto falta de não me preocupar

De chegar em casa depois da aula com a lancheira na mão

Pedir a benção pro avô que não tem mais

Sentar no sofá e ver os desenhos animados esperando o almoço

Que saudades dos tempos de menino

Onde eu corria de tarde com meus amigos

Jogava bola na rua

E minha mãe gritava meu nome depois pra eu voltar

Essa foi minha El Dourado durando uma década

Não lembro da última conversa de amigos

Da última ida na casa de um deles

O último ''te vejo amanhã''

E aqui escrevo essa triste texto

Sentado na mesa branca e de madeira fria

Com as luzes apagadas e o abajur ligado

Preocupado com trabalhos para fazer

Preciso ir agora

São meia-noite e vou acordar cedo

Hora de arrumar emprego

Pedro La Vieira
Enviado por Pedro La Vieira em 18/06/2019
Reeditado em 19/06/2019
Código do texto: T6676325
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