De fora da janela
Abro as janelas
Eu vejo o mesmo céu
O céu de quando eu era jovem
E olhava para a rua
Dentro dos meus próprios pensamentos
Querendo voar para longe
Que sensação estranha
É o mesmo céu
É o mesmo sol
São as mesmas nuvens
Mas não é a mesma coisa
Atravessar a rua e chegar em casa
Me sinto novo demais para sentir nostalgia
Porém me sinto velho demais para voltar
Os tempos nunca fora tão bons
Porém não era bons como são agora
O dinheiro que faltava
A vinda árdua da escola
A fome até de tarde
Queria poder atravessar a rua mais uma vez
Para a casa da minha mãe e poder dizer
''Eu cheguei''
Como o tempo voa
Corre e passa rápido
Hoje 20 e amanhã 40
Depois sem pai e mãe
Me torno o pai e me caso com a mãe
Que vida há de ser daqui um tempo?
Preocupações que todo jovem menino tem
O trabalho que ainda não tem
O dinheiro que falta
O tedioso emprego que terá
Sinto falta de não me preocupar
De chegar em casa depois da aula com a lancheira na mão
Pedir a benção pro avô que não tem mais
Sentar no sofá e ver os desenhos animados esperando o almoço
Que saudades dos tempos de menino
Onde eu corria de tarde com meus amigos
Jogava bola na rua
E minha mãe gritava meu nome depois pra eu voltar
Essa foi minha El Dourado durando uma década
Não lembro da última conversa de amigos
Da última ida na casa de um deles
O último ''te vejo amanhã''
E aqui escrevo essa triste texto
Sentado na mesa branca e de madeira fria
Com as luzes apagadas e o abajur ligado
Preocupado com trabalhos para fazer
Preciso ir agora
São meia-noite e vou acordar cedo
Hora de arrumar emprego