Aos cinquenta eu fui pra pista!
Corro para o sinal não fechar
Fecho os vidros para o pivete não me alcançar
Freio para humanos desatentos
Tento não parecer medrosa
E quando o guarda me olha
Sorrio parecendo estar calma...
Já tive mais de quinze carros
Sem saber dirigir
Esse senso de negociante inspirando
Levando de mim uns tempos sem cinto de segurança,
E agora que sei
Não quero desaprender negociar
E acelero na pista dos números
Enquanto procuro ferrugem no chassis do Palio barato.
Queria viver de POESIA
Mas o balcão me aprisionou tanto!!!
Larguei tudo
Esqueci que o patrão tem sempre razão...
Cheiro gasolina enquanto ouço o motor
A mecânica da vendedora ainda me inspira,
Aperto o pé no freio e a conta bancária resmunga:
' Cris, larga de ser sonhadora!'
Compro, vendo, troco
Às vezes eu erro...
Quem não erra?!?
Corro para o sinal não fechar,
Mas respeito a vida.
Estou aprendendo a guiar aos cinquenta anos
Sem tantos atropelos, parecendo melhor do que sou!
Hoje fui ao Alto do Ipiranga, numa feirinha bacana
Sinalizei minha liberdade,
Comprei minha camiseta customizada
Feliz como uma menina sapeca,
Entrei no meu carro
Como quem estivesse saindo de uma placenta...
Ah, pilotar fogão já era,
Eu nunca soube cozinhar mesmo!!!