Gênesis Herética
Raios serpenteantes do sol
Rasgam o véu de névoa que encobre bosques profundos
Esquadrando extensões parciais
De um ser sob círculos dourados e escuros
Encontra-se em vertiginoso anseio
A alegoria humana de Vênus
Iluminada como celeste principado irônico
Sonha tragédias tentadoras
Miragens da união de anjos e demônios
Suor e tremores banham seu delírio
O prelúdio da falsa morte,
Através do poder latente do desejo
Transmuta na relva sombras do abismo
Formas etéreas e ocultas da sensualidade
Materializações dos futuros prazeres terrenos
Circulam lascivas em adoração
à perdição estendida sob o sol do eclipse
Tempo, dimensão, ideia e realidade se misturam
No ápice do ritual de gemidos e sussurros
Ante o furor hipnotizante do gozo
Tudo se dissolve.
Silêncio.
No lugar de Vênus, uma jovem nua sobressalta-se do sono confuso
A primeira visão a banhar seus sentidos
É um galho contendo o famoso fruto
Sinônimo primal de ascensão e queda
A nova criação não percebe ao fundo
A serpente astuta que lhe espreita.