Melancolias e Alguns Versos VIII
Gostaria de não ter mais
Um coração preso ao meu peito
Assim, não sofreria jamais
E minha existência teria algum jeito
E meu olhos não mais seriam
Como nuvens carregadas
Sobre o meu rosto, não mais choveriam,
Deixando minhas esperanças nubladas
Minha entranhas não mais sangrariam
A mágoa que não conseguem remoer
Minhas veias não mais sofreriam
Com a ira, em meu sangue, a ferver
No meu mundo de fantasia,
Embora o ódio dê cria,
Ainda há uma certa magia,
A despeito da minha sangria
Há um horizonte além da dor
Trancafiado na minha mente
Onde sobrevivi, mesmo doente,
Após ser banida pelo Criador
Amaldiçoada, desde a concepção,
A vagar por esse mundo sem amor
Assumo minha solidão como única opção
Pois não cabe mais em mim tanto rancor
Não há paz em meus ossos,
Meus intestinos serpenteiam em meu ventre
Meu estômago já não digere tantos remorsos
Abro minhas portas para que a loucura entre
Tanto fugi do que realmente sou,
Que meu pecado por fim me encontrou
Alastrou-se pela minha alma feito pestilência
Roubando-me a sanidade e a decência
Tanto fugi aos olhos do Divino,
Para não tomar, em vão, seu santo nome
Fechei minha bíblia e aceitei meu destino
Com meu próprio sangue, saciei minha fome
Fechei meus ouvidos às verdades sagradas,
Juntando-me à massa de almas desgarradas
Meu espírito afunda em mares revoltos
Onde jazem meus sonhos natimortos