A estranha margem da sociedade dos monstros. (Ode a miséria humana)

Noite difícil esta que passo

O viaduto é grande

Mas quase não há mais espaço

Aqui me misturo com todos os restos

Tudo o que a sociedade usa e declara usado

Não somos nada além de um resto de pó cheirado

Nem temos direito a protesto

Não temos direito de ser alguém

Somos aqueles

Apenas aqueles

Pedaços do vazio perdidos nos subúrbios

Cacos do vidro quebrado de uma sociedade usada

Murmúrios

Gritos, cercado de uma paz alarmada.

Vivo a dor

Vivo a miséria

Vivo o oposto de um fulgor

Jogado debaixo de panos mofados

Espalhado por entre a umidade

Como tantos outros

Perdi a individualidade

Sou só um numero

No ranking da desigualdade

Sem endereço

Sem nem moedas para viver

Sem apreço

Sem motivos para querer novamente ser

Qualquer coisa além de lixo

Não passo de um pobre bicho

Algo perigoso, sujo.

Desprezado

Um pedaço de papel higiênico recém usado

Mais uma das sujeiras da metrópole

Sonhos perdidos

Esperanças

Sem amigos

Nem lembranças

Só o vazio me faz companhia

A cada escurecer de um novo dia

Sinto ódio dessa sociedade vadia

Ódio. Não tenho mais forças para possuí-lo

Fui traído. Enganado. Cercado de medos.

Empobrecido. Desgraçado. Cercado de monstros.

Vida há tão pouco tempo amaldiçoada

Vivo na infeliz margem de uma sociedade acabada.