A Vida em Preto e Branco

Todo dia acontece sempre igual: não tem magia, não tem sonhos, apenas o amanhecer e um dia inteiro pra sofrer, chorar, chorar e calar.

De um lado a outro, pedindo, andando, sentando, levantando e chorando. - Não. Hoje não. Não tenho!

E um outro, nem resposta. Desviam seus olhos e atravessam a rua, mas lá também tem outro. Desviam-se, passam bem longe.

De algum lugar alguém os observa com olhos de ambição, tomando deles o que não conseguiram:- Pega essa criança, vai pra outra esquina. A resposta é vazia:- Mas lá já estive e nada consegui! E novamente a ordem:- Volta, você tem que conseguir! Com uma camiseta furada e chinelos gastos, arrasta uma criança despenteada pela mão. Mão da mãe que mora nas ruas e não pode dar-lhe nem o pão.

“Mãe e filhas são conduzidas por um inescrupuloso homem que as leva de um lado a outro e ao findar o dia, tira quase tudo do quase nada que elas ganharam”.

Mais uma vez a noite chega. Por companhia, apenas seus anêmicos vizinhos, que juntos moram sozinhos a margem da vida. Dormem ao relento fazendo dos jornais seus lençóis; embriagados, até os pequenos. E a cola é pouca pra tantos que a cheiram, embriagam seus cérebros pra não sentir fome nem o frio que os consome.

Pra não dizer que tudo é tristeza, pode-se acordar mais cedo ou não dormir, pra ver a aurora surgir. Trazendo a cada dia um espetáculo novo quase sempre carminado nas ruas mortas das grandes cidades.

Mais um dia começa, e com ele começa também a corrida da fome e a luta pelo ópio pra entorpecer a mente e morrer lentamente.

A única vantagem que eles têm é ver um pôr- do- sol diferente a cada entardecer e o raiar de um novo dia, contemplado assim o amanhecer, sempre pela aurora que os visita.

Mas, de que adianta?

Eles não sabem fazer poesia!

Lili Ribeiro