A Ferro

Quero escrever sobre isso que é vasto,

Sobre todas as histórias que se deitam no tempo,

Sobre isso de pedra e aço

Que moldam o homem.

Quero contar sobre as rosas e os espinhos

cravejados no peito do poeta,

Palavras pesadas,

Vistas à olho nu, que despem almas.

Eu quero escrever sobre isso que é vasto,

Isso que ignora o sensível,

Sobre um homem que acende o cigarro,

Sobre o barulho que fazem seus sapatos

Na calçada de volta para casa.

Eu quero ver graça,

No meio do barulho que ecoam às ferramentas,

Que ecoam o trânsito perverso e severo,

O barulho no meio do aço, do gás e da fumaça que nauseiam

Toda gente na capital do país.

Eu quero escrever sobre essa fome

Que habita os morros e o asfalto

Que corrompe, que mata.

Que é a consequência da indiferença.

Tanta igreja e tanta miséria.

Quero falar dos abusos

e daqueles que abusam

Dos frágeis e inocentes,

Indefesos como presas

Quero denunciar o silêncio

e a descrença que empregam

nas vítimas, e são tantas meu Deus,

Essa raça me enoja.

Pobre poeta,

Os poemas nascem prontos

Enquanto tua alma daqui parece chumbo,

E os poemas não são poemas,

São risos largos, irônicos,

Lágrimas de uma minoria.

Os poemas são uma espécie de abraço,

De um carinho qualquer,

Um castelo erguido.

Poeta, tu tens a alma nua,

Enquanto tentas ser de ferro.

Leonardo Ramos