Tempo sombrio

Sonhei que eu olhava para um tempo sombrio.

Som, brio, alma, visão, paladar, olfato, tato, todos os sentidos

Sendo atingidos pelo vácuo que se abriu.

Dele emergiu um espírito de porco,

Muito cínico e muito louco,

Que queria de mim arrancar o pensar.

Se me arrancar o pensar em mim nada vai restar!

Ele é a chuva, o sol, o ar da minha vida,

Sem ele ela é um cisco atingido numa corrida,

Irei bater a cabeça na parede da memória,

Serei livre como um pássaro numa gaiola.

Se eu não puder bater asas, contemplar, perceber,

Cantar e contar o amanhecer e o que eu ver

Sem dúvida, irei perder o que herdei

E não saberei por onde andar nem aonde andei.

Sem a barca do pensar

Serei arrastado pelas águas que correm para o mar.

Se suprimirem de mim essa dama,

Em mim só restará lama.

Que pesadelo pensar

Que a barca do pensar vai afundar.

Acordei embaraçado como se tivesse levado um sacode.

Era o som do alarme repetindo: acorde, acorde...