Legal?
Tão pequenino
No ventre crescia.
Confiante seguia
Para ser menino.
Todo se ajeitava
Ouvindo a canção
Da mãe que lhe dava
Sangue e coração.
Projecto de ser
O estorvo de alguém
Recusou-o a mãe.
À força arrancado
Do ventre morada
Sem ter um pecado
Sem ter feito nada
De noite no escuro
Dormindo seguro,
Foi atraiçoado
Por quem o trazia
Da vida tirado
com vil cobardia.
Sofreu inocente
O mal do mundo
O pecado de gente
O inferno fundo.
Sem anestesia
Sem aviso prévio
De noite ou de dia
A dor como prémio.
Ser despedaçado
Num breve segundo,
Jogado p’ro lado
No lixo do mundo
Por artes exactas
Vestidas de batas
E cara escondida.
Negaram-lhe a vida
Inteiramente
Indecentemente
Mas legalmente.