Política poética I
Morre mais um preto fuzilado. Morre mais um pai de família antes de terminar o seu legado.
80 tiros de fuzil de militares, por "engano", em legitima defesa? E o pobre não pode nem abrir a boca pra se defender que já leva coronhada na cabeça.
Uma facada é atentado quando é dada em um presidente, mas 80 tiros de fuzil num negro é considerado um incidente.
E o Bolsonaro ainda diz que "o exército não matou ninguém" e que "o exército é do povo", que confundiram Evaldo com um assaltante, mas a gente sabe que amanhã eles vão lá e confundir de novo.
A cada 23 minutos um jovem negro é assassinado por engano? Mais de 50 pretos morrem todo dia, por negligência, e as autoridades ainda passam pano. Engano mesmo é acreditar que o Estado tá preocupado em proteger a favela, enquanto a polícia sobe o morro de caveirão e assassina os filhos dela.
A poucos metros de sua casa Marcos Vinicius foi executado. Um menino de 14 anos que morreu baleado, pelas costas, por um blindado. E um uniforme encharcado de sangue vira uma bandeira de luta, pra que outros pretos não sejam assassinados pelo exército a caminho da labuta.
Policiais despreparados? Eu não chamaria assim, não! Porque esses policiais são preparados para agirem como algozes da população.
É o elitismo desse Estado genocida que vem dizimando a favela, os cara sobe o morro de tanque pra pegar traficante e os pobres morrem por tabela.
Porque é assim mesmo, né?! Preto tem que morrer, pobre tem que morrer, favelado tem que morrer, mas os verdadeiros criminosos tão impunes e ganhando dinheiro lá no poder, governando o Estado e investindo em intervenção militar, enquanto os filhos de outras Brunas da Silva não tem lugar nem pra estudar.
Até que se faça justiça, quantas Marielles vão ter que nascer e morrer? Quantos lutos vão ter que ser transformados em luta pra isso parar de acontecer?
E enquanto isso acontece, o preto padece, o pobre padece, o povo padece. O mundo padece, mas a gente não esquece que a luta em conjunto fortalece e que o poder do povo uma hora prevalece.
E eles ainda me diz, "mas menina, cê não é preta, nem nunca morou na favela" mas me diz, precisa ser de lá pra fica de cara com o que acontece dentro dela?
Não é meu lugar de fala e não quero roubar a voz de ninguém, a minha intenção é usar meus privilégios pra lutar não só por aquilo que me convém.
Eu sei que não é o meu lugar de fala, mas não precisa viver lá pra ser consciente e eu não vou ficar quieta vendo gente morrer, por que quem cala, consente.
Maio de 2019.