QUARTO DE DESPEJO
Concomitantemente, a favela despertava
Um emaranhado de ruídos distintos.
Ao mundo real, Carolina regressava
Com infantis lamentos de seus filhos famintos.
Nesse instante, Brasília erguia-se sob euforia;
A imagem idealizada da capital era formada.
Ainda assim, a fome comparecia
E a catadora ia à luta conformada.
Reflexões sinceras eram feitas ao anoitecer,
Apesar da pouca instrução, hostilidade e lirismo
Pois, na falta de alimento, restava-lhe escrever.
Durante cinco anos, o diário registrou cada desejo,
Um ato humilde, inocente e natural;
Trancafiada em seu quarto de despejo.