SACI DE DUAS PERNAS

O SACI DE UMA PERNA,

FUMA UM DA NATUREZA,

PROTESTA, CONTRA AS FESTA,

DE QUEM PORTA RIQUEZA.

USA GORRO VERMELHO,

NEGRINHO JUDIADO,

FAZ TRAQUINAGEM DE PENTELHO,

FOLCLORE FANTASIADO.

SACI É LENDA,

IGUAL AO CURUPIRA,

MAS PRETO EXISTE,

CULTURA AFRO RESPIRA.

A VERDADE QUASE SEMPRE SE ALTERNA,

HOJE EM DIA,

O SACI TEM DUAS PERNAS,

E PROTESTA CONTRA QUEM HOJE GOVERNA,

VIVE NA PERIFERIA,

CHEIA DE MURALHAS,

LUTA PRA INCLUSÃO SOCIAL,

NÃO VIRA MIGALHAS.

DO CACHIMBO DA FAVELA,

SOBREVIVE,

DE JACO E BLUSA VERMELHA,

GRITA LIVRE.

UNS FALAM QUE É BALBURDIA,

OUTROS UM CLAMOR,

SACI É COR DE PRETO,

LEVA PRETO NA COR.

PRETO COLECIONA,

DESGRAÇA E RANCOR,

O PRETO TEM COR,

SIM SENHOR.

PRETO INVENTOU O TAMBOR,

ALÔ, ALÔ SALVADOR.

PRETO É OLODUM,

CAPOEIRA DUM DUM,

NINGUÉM SUPORTA ÁLBUM,

DE PRETO FORMADO.

PRETO NO ENQUADRO,

POLICIA REVISTO,

E PRETO TAVA ARMADO,

ARTIGO 16.

PRETO FLAGRADO,

ARMADO DE LIVRO ATÉ A BOCA,

PRETO NUM É TONTO,

PRETO NUM MARCA TOCA.

DAS MARGENS AFRICANAS,

PRETO É FAVELA,

NAS RUAS SUBURBANAS,

PRETO NUM DA "GUELA",

QUILOMBOS A CIGANAS,

PRETO NÃO AMARELA,

A COR DO PRETO,

NA MÃO DE ARTISTA É AQUARELA.

LUTO E DESESPERO,

PRESO NA TOCAIA,

DO NAVIO NEGREIRO,

PRETO NUM DA "FAIA".

PRETO CORRE COM MEDO,

PRETO CORRE COM DOR,

PRETO ANALFABETO,

PRETO AMADOR,

PRETO RICO,

PRETO ATOR.

QUAL O PAPEL DO PRETO, SENHOR?

PAPEL DO PRETO,

É PAPEL PARDO,

SOFRIDO,

AMARGO.

JUDIADO,

HOJE DE PÉ,

SUCESSO DO PRETO,

DOÍ NÉ,

PRETO MALANDRO,

E PRETO MANÉ.

PRETO DE VILA VELHA,

PRETO DO LEBLON,

“EM BAIRRO NOBRE, SÓ NEGO DE MOLETOM”.

FALAM QUE,

AUSÊNCIA DE CALOR É FRIO.

AUSÊNCIA DE CLARIDADE É ESCURIDÃO.

AUSÊNCIA DE PRETO EM BAIRRO NOBRE, É IMPERÍCIA.

JÁ AUSÊNCIA DE PRETO VIVO, É A IMUNDÍCIA.

IMUNDÍCIA QUE NADA,

ESSE TERMO TEM NADA HAVER,

MAS PREZO, POR NÃO SER PRESO.

PELO ESCREVER,

PREZO PELO PRETO,

E REZO PELO INDEFESO,

SURPRESO ELE É REPRESO,

NA SOCIEDADE VIRA PESO,

COM MEDO DO APRESO,

POBRE, PRETO!

PRETO, POBRE!

ISSO NUM ESCANDALIZA,

MAS PRETO EM BAIRRO NOBRE,

ATÉ ATEMORIZA.

GOSTO DO PRETO,

GOSTO DO BRANCO,

GOSTO DO AMARELO,

GOSTO DO AZUL.

MAS A COR DE QUEM MALTRATA NEGRO,

ME ENJOA,

NÃO É ATOA,

TEM PRECONCEITO NA MINHA PESSOA.

PRECONCEITO EU TENHO SIM,

ESSE É MEU MAL,

QUERER FAZER JUSTIÇA

CONTRA ANIMAL,

POR QUE QUEM ODEIA PRETO,

NUM É RACIONAL,

TAMO FALANDO DE UMA COR,

A COR BROWN,

COR BLACK

COR DE QUEM SOFREU,

PECADO DE ANTEPASSADO

E NÃO MEU.

MAS EU LUTO,

PRA RESTITUI,

O ERRO DE QUEM VÊ,

EM PRETO O SACI.

É UM POUCO INFORMAL,

O MEU VERSO É FRANCO,

EU SEI, MAS AE.

AQUI QUEM FALA É UM BRANCO!

QUE CRESCEU,

RODEADO DE NEGUINHO,

SEU SIDINEY DEU O PAPO,

PRA EU ESPALHAR CARINHO.

PÔ PRETO, PARDO,

BRANCO E O VIZINHO.

ATÉ O QUE MENDIGA SOZINHO.

GRAÇAS A VOCÊ PAI,

UM COMERCIANTE URBANO,

QUE PASSO POR TANTOS ENGANOS,

HOJE UM PAULISTA,

ATÉ QUE MEDIANO,

QUE ME ENSINOU,

A AMAR SER HUMANO.