Rap
A clausura que acomoda
Os que rapinam os pobres
Alimenta os ratos
A oferecer-lhes queijos nobres
A brindá-los com outros sabores
Como os bolos de bacalhau
Que engasga os rapinadores
A calá-los no tribunal
E as flores para as damas?
Donas das joias em penhora
Adversárias na trama,
São “orquídeas sapatinhos de senhora”
Não há controle destes vetores
Pois para eles há fartura na mesa
A formar uma teia alimentar
E para os miseráveis há migalhas e tristeza
Entre as grades da sociedade
Nossas asas atrofiam
A impedir o voo da liberdade
E a baldar a vida
Não há alvará de soltura
Para nós, condenados inatos
Não há tutela
Para nós, natos da favela
O sol nasce quadrado
Não há o horizonte
Há um monte farpado
De alta corrente
Há um rio de águas amargas
Onde vivemos à margem
A trabalhar forçados,
A terceira margem
Há o Conselho que tutela o crime
Com a lei na palma
Liberta a alma suja
E a retoma ao cume
Onde há devotos e votos
À favor do suspeito
Que bate no peito
A jurar santidade
E dá continuidade ao delito
Pois gritos de abafa
Impedem o castigo
Do filhote do Planalto
E a história se repisa
Nada se confirma
É mais uma reprise
Da impunidade
Nos becos do território negro
Nas vielas das comunidades
Não obstante haja arrego
Pode-se atirar à vontade
É a ordem do déspota
Que disputa o trono
A do céu definir a rota
A ferir os direitos humanos
São mortes divulgadas por dia
Uma contagem errada
Há as dos passageiros da agonia
E as das promessas mutiladas
O que esperar do juiz?
Que decora os estatutos
Que jura cumprir a lei do país
Que se diz absoluto
Tu que chegas tão arrogante
Ao trono dos governantes
A prometer armas bastantes
Nas mãos dos cidadãos ignorantes
Não tem a noção do perigo
Que é a reação do inimigo
Ao perceber que a arma contigo
É o troféu do bandido
E o tiro sairá pela culatra
Em direção à testa do magnata
Que quando algo o desacata
Saca e cavaco cata
É a catástrofe da sociedade
Um sujeito sem propriedade
Adquirir uma arma por vaidade
Sem saber usá-la de verdade
E quantos irão padecer
Nessa guerra do mais ter
Cerca de um ser
Ou de todo o volver
A tropa a cair devagar
A procurar o maná
Será o símbolo do azar
Na crendice popular
Mas no credo dos alheados
Tudo está destinado
A morte dos condenados
E a soberba dos mais dotados
E o Clube dos Corruptos que se acham putos
É composto por atores indiscretos
Que jogam o bilhar sem valer
A celebrar o indigesto gesto de mais se obter
Há sócios beneméritos a se banhar,
A beber destilados coquetéis à beira da piscina
Que armazena patacas de notas lídimas
E a dar gargalhadas das vítimas
A gala do salão é iluminada pelos lustres de cristais
As faces dos ímprobos se refletem nos vitrais
A formar uma combinação de fantasmas a dançar
É o baile à fantasia promovido pela burguesia
Entretanto, a porta é estreita ...