Prova dos nove

Esses crivos que te furam o corpo,

nove e de nove milímetros,

são os direitos dos pequenos

que reivindicaste em vida.

Toma, são de bom tamanho,

nem largos, nem fundos,

é a cota que merecem

todos os teus no mundo:

um por ser preta, um pela voz à cor;

um por ser mulher, um pela voz ao gênero;

um por ser lésbica, um pela voz às letras;

um por ser favelada, um pela voz aos pobres.

E mais um para calar a arma.

Teus direitos são esses e assim se assinam

com o puxar de um dedo na cor das chacinas.

Nove tiros são os crivos como os cravos da outra cruz.

Noves fora e o que sobra, o que rola

é que boca cala, mas a palavra espalha;

um corpo morre, mas o protagonismo nasce e fala

em escala de um para nove.