Pedidos
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E, se olhamos os mortos, pedimos a vida
se vemos a seca, pedimos a água
se vemos tanto trabalho, reclamamos da lida
se vemos um homem açoitando,
o açoitamos, com mágoa
criamos a oração em próprio proveito
largamos a enxada, mas nunca a foice
sangramos a vida e a terra de um jeito...
e do burro que trabalha,
só lembramos do coice
louvamos com cânticos e acendemos as velas
incensamos e lavamos muitos degraus
ficamos em espera, pelas janelas
e apontamos o dedo, aos homens maus
e pedimos a vida, olhando os mortos
e pedimos a água, olhando a seca
vivemos de olhar, o tempo, absortos
e açoitamos a tudo que não interessa
e em meio à prece
apagamos as velas
com a fúria dos danos
parcos, mundanos
e queremos as pérolas
jogadas aos porcos
com o dedo que aponta
nem vemos que, um
nos mostra a conta
de três contra nós
e não há inocência
em lado nenhum
quanto mais se envelhece
mais se reclama
quanto mais se apetece
mais se tem gana
e o mundo girando, lá embaixo das pontes,
nos revela o bueiro e no esgoto que fede,
os nossos próprios dejetos, jogados aos montes...
'De onde está você, rogai por nós"
...cada um nasceu
Com a sua voz,
Pra dizer, pra falar
De forma diferente
O que todo mundo sente..."
Ave Maria da Rua
(Raul Seixas)
No lixo dos quintais
Na mesa do café
No amor dos carnavais
Na mão, no pé, oh
Tu estás, tu estás
No tapa e no perdão
No ódio e na oração
Teu nome é Yemanjah,
Yemanjah
E é Virgem Maria
É Glória e é Cecília
Na noite fria
Ou, minha mãe
Minha filha tu és qualquer
mulher
Mulher em qualquer dia
Bastou o teu olhar
Teu olhar
Pra me calar a voz
De onde está você
Rogai por nós
Ou ou ou
Minha mãe, minha mãe
Me ensina a segurar a barra
De te amar
Não estou cantando só
Cantamos todos nós
Mas cada um nasceu
Com a sua voz, Ou ou ou
Pra dizer, pra falar
De forma diferente
O que todo mundo sente
Segure a minha mão
Quando ela fraquejar
E não deixe a solidão me
assustar
Ou ou ou
Minha mãe, nossa mãe
e mata minha fome
Nas letras do teu nome
Ou ou ou
Minha mãe, nossa mãe
E mata minha fome
Nas letras do teu nome
Ou ou ou
minha mãe, nossa mãe
E mata minha fome
Na glória do teu nome.
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