Poema concreto

Ergue-se lentamente

um esqueleto de ferragens

e altera a paisagem...

E a cidade cresce!

A brita – pedra miúda – denuncia

a escravidão infantil que quebra pedras

e fragmenta os sonhos de meninos e meninas

que não vão à escola – inocentes,

mas que quebram pedras

como antigos condenados...

A areia recolhida

em rios pestilentos por barqueiros,

gondoleiros dos sonhos já perdidos

no fundo do rio...

E agregando a mistura

o cimento...

Padecimento...

Mãos feridas e inchadas de operários

manuseando enxadas

e adicionando água...

As mágoas ignorando

enquanto eles próprios agregam-se à massa;

é a massa agregada – é povo

equilibrando-se em andaimes com os seus baldes,

debalde o tempo passa

e a cidade cresce

e cobre o esqueleto das ferragens...

A bela paisagem nos indulta e inculpa...

Não é “mea culpa”,

é o progresso!

Poeteiro
Enviado por Poeteiro em 11/10/2005
Código do texto: T58609