Poema concreto
Ergue-se lentamente
um esqueleto de ferragens
e altera a paisagem...
E a cidade cresce!
A brita – pedra miúda – denuncia
a escravidão infantil que quebra pedras
e fragmenta os sonhos de meninos e meninas
que não vão à escola – inocentes,
mas que quebram pedras
como antigos condenados...
A areia recolhida
em rios pestilentos por barqueiros,
gondoleiros dos sonhos já perdidos
no fundo do rio...
E agregando a mistura
o cimento...
Padecimento...
Mãos feridas e inchadas de operários
manuseando enxadas
e adicionando água...
As mágoas ignorando
enquanto eles próprios agregam-se à massa;
é a massa agregada – é povo
equilibrando-se em andaimes com os seus baldes,
debalde o tempo passa
e a cidade cresce
e cobre o esqueleto das ferragens...
A bela paisagem nos indulta e inculpa...
Não é “mea culpa”,
é o progresso!