DESORDEIRA
Desordeira!
Mulher negra problemática
Mulher negra insubmissa
Mulher negra atormentada
Não se viu na tela
pintou -se na parede
Não se viu no livro
escreveu-se num diário
Não se viu na vitrine
posou no meio da rua
- Atormentada!
- Insubmissa!
- Problemática!
Não entende que o mundo
é o que é e não muda
faz o que faz e não para
diz que diz e não cala
Atormentada em não se ver
Insubmissa ao que está sendo
Problemática num mundo resolvido
Ergue sua voz
no silêncio da normalidade
Ergue seu punho
solitário entre mãos cativas
Ergue seus olhos
esticados para além da noite
Mulher negra insubmissa
Mulher negra atormentada
Mulher negra problemática
Insiste que a vida é mais
do que morte e solidão
do que dor e indiferença
do que choro e lamento
Mulher negra inacabada
Se faz com tijolos de aço
Entrelaçados com tiras de cetim
Cantando e pisando na dor
Lutando e vencendo a indiferença
Solapando as bases da tristeza
Arruinando os pilares da solidão
Refaz-se de si para o mundo
Inacabada que se vê
Como ponta de uma flecha
No arco de sua própria história!
Mulher negra problemática
Negra insubmissa
Mulher atormentada
Desordeira, afinal.