ENCOMENDA DE POEMA

Pediram que eu fabricasse

um poema pra ontem,

encomenda de gente

que paga bem.

Foi pedido que o poema,

por fora,

fosse assim,

vistoso,

de frases envernizadas

e adjetivos

em grau superlativo analítico.

Que,

por dentro,

eu o recheasse

com palavras macias

e de pouca fibra,

onomatopeias vocálicas

a perder de vista

e apelo especial

ao Divino nas entrelinhas.

Vou entregar, porém,

um poema puído

das palavras batidas

que costumo usar

e

esfacelado pelos adjetivos

perfuro – cortantes

que a vida

vai nos entulhando.

O recheio do meu poema é

o recheio da fome

de legiões.

Meu poema é louco.

Meu poema é laico.

Meu poema é tosco.

Meu poema é oco

como é

o véu da insanidade.

Masé Quadros
Enviado por Masé Quadros em 02/08/2016
Código do texto: T5717143
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