Canto para Vitor Kaingang

Ansiavas conhecer o mar, menino!

E por onde segue tua alma?

Tua bacia d’água, na cova,

puseram?

Água de mar?

Vislumbro-te, pés descalços,

cabelo cortado em coroa,

vermelho a tingir tuas roupas,

a tradição imaculada.

Passadas curtas desse corpinho de nada

alcançando as ondas.

Adiante,

teu povo em pranto

o Kuiã que não teve tempo de consultar os espíritos

e as cordas de Imbé que não foram usadas

porque não tinhas doença a ser curada.

Pudesse o Kuiã reunir uma infinidade de cordas

e apertar o corpo da sociedade

o corpo do teu algoz

e curar-lhes as doenças...

a terra não guardaria o corpinho

com rosto voltado ao nascente.

Para Vitor Pinto, Kaingang, vítima de uma sociedade doente.