PERDI-ME NA VIELA...
PERDI-ME NA VIELA...
Perdi-me na viela mais escura
Duma cidade em sonhos visitada
Ali onde a tristeza e a amargura
Em pobres corações fazem morada
E vi o fundo olhar que se incendeia
Esse que na carência mostra ódios
Alguém que por tão pouco ali esfaqueia
E dá de duras cenas episódios!
Confesso que tremi de tanto medo
A grosseria... os sem educação...
Depois eu acordei daquele enredo
Para outro mundo... a Civilização
Olhei o homem nobre a quem foi dado
Um berço bem mais rico de ouro ou prata
Colégios... boas regras... educado...
Mas vejo-o fazer guerra e também mata
Os olhos bem mais doces é verdade
Percebe muito mais de hipocrisia
E vive nos chalés da tal cidade
Sem nunca o comover a periferia
Não lhe entra frio na porta ou na parede
A mesa às refeições é bem mais farta
Ouve falar da fome... até da sede
Embora do que tem pouco reparta
Mas há em várias coisas semelhança
Na zona nobre ou na viela escura:
Há sempre algum sorriso de criança
Ligado a um olhar cheio de ternura
Seria a da viela um grande homem
Se algum apoio houvesse e condições
Um repartir melhor desses que comem
E esbanjam em supérfluas situações
Ah, quanto tempo levará ainda
Para mudar as coisas na verdade!
Até que a viela venha a ser tão linda
Como outro qualquer ponto da cidade!
Joaquim Sustelo
(editado em COMO UM RIO)