O MEU MELHOR POEMA

O MEU MELHOR POEMA

O meu melhor poema não está feito

Não foi chegado ainda esse momento

Talvez até nem chegue... falta o jeito

Falta-me inspiração, falta talento...

Seria para ti pobre criança

Sem lar, descalça e rota, pela rua

Sem ter de melhor vida uma esperança

Pois sentes que o desprezo continua

Seria para ti pobre mendigo

Que a sorte ao ser madrasta não te deu

Saúde pró trabalho... e o castigo

Foi pôr à caridade o teu chapéu

Seria para ti que estás doente

Sabendo que tens vida mas tão breve...

Que numa dor profunda, comovente,

Pedes que venha a morte e que te leve

Seria para ti que és "marginal"

Como te classifica a sociedade

Mas sem dar solução a esse mal

E às vezes é questão de ter vontade

Seria para ti pobre operário

Que tantas vezes filhos alimentas

No pouco que te dão... magro salário

E a fome nem a matas, afugentas...

Seria para ti ó pescador

Que arrostas contra a vaga alterosa

Para trazer aos filhos com amor

Sustento duma vida tão perigosa

Seria para ti agricultor

Que aguardas que a semente crescer deva

E às vezes o mau tempo em seu furor

Não ta deixa colher e tudo leva

Seria para ti pobre mineiro

Que arriscas tua vida a cada instante

Em grutas que não sendo cativeiro

Decerto serão dele a variante...

Seria para ti mulher que vais

Bem cedo pró trabalho, tão mal pago

E à noite extenuada em sono cais

Sem ter uma carícia... um afago...

Seria para ti, que houve invasor

Matando-te a família em plena guerra

Que sofres impotente tanta dor

Nem sabes porque queimam tua terra

Seria para ti preso político

Que um dia te sentiste em grande míngua

E nunca te aceitaram como crítico

Nem puderam cortar a tua língua

Seria para os pobres explorados

Aqueles que citei, e mais, e tantos...

Para os que engordam outros, que anafados,

Não são dados a dores nem a prantos

O meu melhor poema não está feito

Apenas deixo aqui a intenção

Não tenho pró fazer talento, jeito,

Mas tenho para sentir um coração

E se te vires aqui neste rimar

Tenta que a alma fique mais serena

Que o ler já alivie o teu penar!

E se força te der... valeu a pena!

Joaquim Sustelo

(em UM POUCODE SOL)

Joaquim Sustelo
Enviado por Joaquim Sustelo em 19/06/2007
Código do texto: T533422