NA ESQUINA DA RUA
NA ESQUINA DA RUA
Na esquina da rua
Do lado do medo,
Ali onde o sonho
É um nado-morto,
Sorrisos de lua
Brilham em segredo
Num céu enfadonho
Redondo mas torto.
Do lado do medo
O medo se nutre
Na lúgubre esp'rança
De esp'rança nenhuma;
Atrás do enredo
Ficou o abutre
Que faz a cobrança
Ao pobre que fuma...
Ali onde o sonho
Não faz simbiose,
Sem laivos de paz
Que dêem alento!
O tempo medonho
Traz mais outra dose
E há uma que faz
A vida ir no vento.
É um nado-morto
O esgar dum sorriso
A mesa é vazia
E cama não há...
O que é ter conforto?
- Ter o que é preciso?
- Como é a fatia?
-Discernir, não dá...
Sorrisos de lua
Chegam lá do alto
E enchem o espaço
Pintando-o de prata;
Mas no chão flutua
Um cheiro no asfalto
O sangue num traço
Do gesto que mata!
Brilham em segredo
Estrelas... alheias;
Já que por decretos
São d'outros, os céus...
O escuro vem cedo
De paredes-meias
Sob os mesmos tectos;
- Onde é que está Deus?
Num céu enfadonho
Duma estranha cor
De nuvens escuras
Por tempo constante;
Sem esp'rança, sem sonho
Sem brilho ou calor
Perdido em lonjuras
Dum sol que é distante...
Redondo, mas torto,
O céu que aparece
Qual chão ondulado
De dunas, deserto...
Viesse um conforto
Valesse uma prece,
Mas tudo é nublado
E o amor tão perto!...
Joaquim Sustelo
(em ENQUANTO A BRISA SOPRA)