O LÁZARO

Sou Lázaro à sua porta:

minha sombra queima

minha saliva, derrama

sou alvo de bocas e olhos.

A cidade é meu abrigo

a rua meu quarto, minha cama;

sou pleno nesta selva

sou em essência sede e fome.

Me vejo na cidade, sendo

Me vejo pela cidade, fluindo

com garras e dentes digerindo.

Caminho entre tantos, distinto

tantas pernas me condenam

sou falho, sou filho de homem.

Meu passado torto é passado

aqui jaz minhas penas, presente

sou arte marginal aos olhos

sou em essência sede e fome.

O trem que passa, o ônibus

uma gravata com listras

o self service na esquina

a noite chegando, a luminária.

Esse cansaço que não passa

essa dor imensa nas pernas

meu estômago murcho arde

sou em essência sede e fome.

Me fecho numa caixa e sonho

o mundo não tem fronteiras

o paraíso tem portas abertas

o céu ainda é para os santos.

Entendam minha sorte

me atendam com afetos

me aqueçam no inverno

sintam a minha dor, amem!...

NivaldoRibeiro
Enviado por NivaldoRibeiro em 30/03/2015
Reeditado em 15/04/2015
Código do texto: T5189229
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