O LÁZARO
Sou Lázaro à sua porta:
minha sombra queima
minha saliva, derrama
sou alvo de bocas e olhos.
A cidade é meu abrigo
a rua meu quarto, minha cama;
sou pleno nesta selva
sou em essência sede e fome.
Me vejo na cidade, sendo
Me vejo pela cidade, fluindo
com garras e dentes digerindo.
Caminho entre tantos, distinto
tantas pernas me condenam
sou falho, sou filho de homem.
Meu passado torto é passado
aqui jaz minhas penas, presente
sou arte marginal aos olhos
sou em essência sede e fome.
O trem que passa, o ônibus
uma gravata com listras
o self service na esquina
a noite chegando, a luminária.
Esse cansaço que não passa
essa dor imensa nas pernas
meu estômago murcho arde
sou em essência sede e fome.
Me fecho numa caixa e sonho
o mundo não tem fronteiras
o paraíso tem portas abertas
o céu ainda é para os santos.
Entendam minha sorte
me atendam com afetos
me aqueçam no inverno
sintam a minha dor, amem!...