Liberdade
O que é liberdade, doutor?
Preto veio até hoje não sabe!
E vós me cê por bondade,
Me explique o que quer dizer?
Estou velho, confuso, não sei ler
Ninguém me quer pra trabalhar
Preciso do pão e onde morar,
Viver nesse mundo igual gente;
Não, asqueroso, um indigente
Vagando nas ruas a mendigar,
Era bem mior sê um cativo..
Pelo menos tinha famia, morada e roça;
Feliz ou não, na minha paioça,
Nunca veio a faltar o nosso sustento,
Nem na senzala com meu povo;
Trabaiava o veio e o novo,
Até o Sol se esconder;
E a noite, além da nossa dormida,
Tinha o luar, a viola, a catinga,
O terreiro e o cateretê
De repente, fizeram a Lei Áurea...
Abriram-se os portões, as cancelas,
Quebraram-se os grilhões, as esparrelas,
Tangeram os escravos sem dar um destino;
Velhos doentes, mulheres e meninos,
Aos lugarejos causando pavor;
Um surto de miséria, de fome e dor,
Talvez, previsto pelos tribunais,
Com essa Lei Áurea, torpe incapaz
Da ética, da justiça e do amor.