josé não sabe seu nome
Teve uma mulher,
uma criança
um casamento
e uma casa
Teve amor
e descontrole
Teve o controle da TV nas mãos
e um fuzil.
Fitou dentro dos olhos
cheios de paz
e de sangue.
Diz que já foi muito louco
Mas que foi mesmo a sanidade que o fez ver o que não quis:
tiro e sombra
pedra e lasca
do teto caindo
ficou só o pó
aproveitou e vendeu o pó
tanto o da construção
quanto o que desconstrói irmão
Perdeu a família,
a casa,
a guarda das crianças,
a conta,
a assombração,
o próprio nome,
a televisão,
Perdeu o controle
e o fuzil
só não perdeu o caderno velho
onde coleciona histórias
reais ou não
porque não importa o real, os reis
que já não tem
se vê que nem tudo é mentira
só não tem real no bolso
vive de sequela e poesia
jogado nos cantos sujos dessa cidade
onde tanto burguês quanto vagabundo
param pra ouvir suas meias verdades.