A merda no ventilador

Aqui falamos de tudo

e de nada, ao mesmo tempo.

Aqui é a classe média brasileira.

Devem me desculpar,

por tão prosaico tema em poesia.

Busquei outros, mas nada me vem hoje.

Liguei e desliguei tantas vezes

aquele velho ventilador

que o aparelho pareceu afeiçoar-se a mim.

Olhava para mim como que dizendo:

desligue-me para sempre, aposente-me.

Liguei e desliguei

tantas vezes aquele treco,

o vento quente quando no verão

um vento frio, geladíssimo no inverno,

insuportável.

O eletrodoméstico olhava para mim

e eu olhava para ele,

tantas vezes

que eu já nem sei.

Acho que a máquina pedia por descanso.

Mas infelizmente eu não tinha outro.

Não podia me desfazer dele

Quiçá, algum dia, seria possível

comprar um circulador, quem sabe?

Enfim decidi-me: aos excrementos então.

Devem me desculpar pelo assunto besta,

na casa da classe média brasileira,

não tem ar condicionado.

Aqui falamos de tudo

e de nada, ao mesmo tempo.

Aqui é a classe média brasileira.

Mauricio Duarte (Divyam Anuragi)
Enviado por Mauricio Duarte (Divyam Anuragi) em 20/03/2014
Reeditado em 20/03/2014
Código do texto: T4737216
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