REGRESSANTE

Olhos esgazeados,

face rija, embrutecida,

os lábios secos, rachados

e a pele ressequida.

Membros estropiados,

mãos grossas, calejadas.

... E os passos incertos, cansados, retomam a caminhada...

__ Oh! Cansado viajante,

qual seu nome e seu destino?

__ Sou apenas retirante;

Ariovaldo, Juventino,

Valdevino ou Juvenal.

Não tenho terra nem nome,

sou quase um animal

que foge da seca e da fome.

Pro Sul vou me arribando

e no meu surrão de couro

quase nada vou levando.

Mas carrego a esperança

de um dia mandar buscar

a mulher e as crianças

para comigo morar

na terra onde há fartura,

trabalho, respeito e abastança.

Adeus meu sertão amado, queria poder ficar.

Olhos amargurados,

face rija, envelhecida,

os cabelos rareados,

a saúde enfraquecida,

membros estropiados,

mãos grossas, calejadas.

... E os passos incertos, cansados, retomam a caminhada...

__ Oh! Cansado viajante,

qual seu nome e seu destino?

__ Outrora fui retirante,

hoje nem sei o que sou.

Pau de Arara, Nordestino,

nem o meu nome restou.

Fugindo da seca deixei

o meu caritó, o meu lar.

Vida melhor eu sonhei

e foi triste o despertar.

Por cidade empedernida

troquei a aridez do sertão.

O embalo de minha rede

por catre ao rés do chão.

Construí apartamentos,

embaixo de pontes dormi.

Catei lixo, comi restos,

mil percalços conheci.

Não amealhei tesouros

e hoje retorno, trazendo

no velho surrão de couro,

saudades, muitas lembranças

e a alegria de voltar.

Parti, fugindo da seca, da sorte ingrata e má.

Mas, apesar da fome, do calor e da opressão,

só queria regressar

e ao Criador suplicava em comovida oração:

NÃO PERMITA, DEUS, QUE EU MORRA,

SEM QUE VOLTE PARA LÁ!

nina de lima
Enviado por nina de lima em 11/04/2007
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