Tumbeiro da vergonha

Retirem os barcos do mares

O tumbeiro vai passar!

Vai levar consigo a discórdia

O caos no ébrio ar

Tão solitário navega

Rumo ao norte da morte

Com o corte na pele negra

Amaldiçoada, à mercê da sorte

Na calmaria do mar

Os gritos quebram a mudez

Ecoam no horizonte

Fazem um estardalhaço sem par

O sol iluminou aquela cena

De olhos fechados

Tudo o que era vida ao redor

Desmaiavam com a dor que acena

Presos nas correntes

Giravam, cantavam suas crenças

Tão desavenças e amigas simultâneas

Ficavam reclusas ali no arcabouço quente

Alguns ousam da valentia

Soltam para fora animalidade

Não fazem por maldade tal gesto

Querem o fim da tirania

São amarrados fortemente

No tronco do ardente castigo

Nas costas escorre o açoite

Como um beijo traído de inimigo

Misturam-se com as cicatrizes

As raízes da terra esquecida

Quem oferece essa marca

São homens metidos a juízes

Aos poucos a negritude se esvai

Tomba estatelada no chão e nas águas

Desistem da vida sofrida, animalesca

Expelem o seu último “ai”

Magalhães da Silva
Enviado por Magalhães da Silva em 13/04/2013
Código do texto: T4238180
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