Tumbeiro da vergonha
Retirem os barcos do mares
O tumbeiro vai passar!
Vai levar consigo a discórdia
O caos no ébrio ar
Tão solitário navega
Rumo ao norte da morte
Com o corte na pele negra
Amaldiçoada, à mercê da sorte
Na calmaria do mar
Os gritos quebram a mudez
Ecoam no horizonte
Fazem um estardalhaço sem par
O sol iluminou aquela cena
De olhos fechados
Tudo o que era vida ao redor
Desmaiavam com a dor que acena
Presos nas correntes
Giravam, cantavam suas crenças
Tão desavenças e amigas simultâneas
Ficavam reclusas ali no arcabouço quente
Alguns ousam da valentia
Soltam para fora animalidade
Não fazem por maldade tal gesto
Querem o fim da tirania
São amarrados fortemente
No tronco do ardente castigo
Nas costas escorre o açoite
Como um beijo traído de inimigo
Misturam-se com as cicatrizes
As raízes da terra esquecida
Quem oferece essa marca
São homens metidos a juízes
Aos poucos a negritude se esvai
Tomba estatelada no chão e nas águas
Desistem da vida sofrida, animalesca
Expelem o seu último “ai”