No meio do caminho
No meio do caminho tinha uma pedra,
Mas não tinha bodoque e nem um passarinho para matar,
Também nao tinha uma mulher iranina para apedrejar,
Ora! - No meio do caminho tinha uma pedra,
Eu não sabia o que fazer com aquela "maldita" pedra,
No meio o caminho tinha uma pedra,
Era uma pedra grande e pontiaguda,
Sim! - No meio do caminho tinha uma pedra,
Era impossível deixar de notá-la,
No meio o caminho tinha uma pedra,
Tão maciça perturbadora que impregnava minha mente de objetos,
No meio do caminho tinha uma pedra,
Tinham, também, muitas crianças famintas por lá,
No meio do caminho tinha uma pedra,
Era a pedra angular de meu terror,
No meio do caminho tinha uma pedra,
Era a pedra de minha consciência,
Era a pedra da minha existência,
Tão obscura e devoradora que obnubilava minha visão,
Tinha uma pedra no meio do caminho,
Era meu "eu" corrompido e desesperado pela luz,
Era meu ego egocentrado em preconceitos,
Era negro, era pardo, era Índio, era gay,
Tinha uma pedra no meio do caminho,
Era meu povo, minha pátria, minha gente,
Era a lei positiva e primitiva,
Tinha uma grande pedra no meio do caminho,
Era o Estado de Direito travestido de justiça,
Tinha uma pedra no meio do caminho,
Era o governo dos poucos e abastados,
Tinha uma pedra no meio do caminho,
Era eu, cidadão, alienado e respingado de miséria e tabus.
Impregnado de ignorância, estupidez e redeglobisses.