As Árvores da Rodoviária

Aquele menino,

Com suas pequenas mãos estendidas

Sentado em um imundo chão

Entre o vai e vem da multidão.

Com seus grandes negros olhos tristes...

Mas ainda brilha em seu fundo

Uma luz de esperança

Seu franzino jeito

Suas poucas roupas sujas e descalço

Passam sem serem notados

Enquanto seu pequeno estômago reclama:

"Uma moedinha pro lanche, tia"

É o que seus lábios refletem,

A única coisa que, no momento,

De seu interior sai.

Sua voz fraca e dilacerada pela fome

Naquele chão frio, uma lágrima de seu rosto cai

Apenas mais um dia como o anterior

Sem ser aquecido, notado

Acalentado, acariciado, afagado.

Dormindo, desolado está.

Desqualificado como um nada

Tenta achar abrigo no mundo perdido

Não que seja amigo do Peter Pan

Mas se perdeu de tal maneira que não voltou mais...

Cansado daquela multidão que passa com suas gravatas e saltos

Perpassam por ele como se passassem por uma árvore...

Aquela que não dá flores nem frutos!

Como se solidificada na paisagem estivesse...

Inerte, insólita onde sempre esteve e como sempre estará!

Com seus troncos retorcidos e suas folhas secas,

Suas raízes tristes e solitárias,

Mendigam os pingos de água que restam na solo.

Ninguém a admira ou a elogia

Fadada ao esquecimento...

Até mesmo depois de sua trágica morte...

Todos acham tão normal que nem estranham a sua ausência

E quando uma outra árvore surge em seu lugar

Ninguém reparará às diferenças

Será apenas a mesma estória que se repetirá várias vezes.

20/10/2010

Naty Castro
Enviado por Naty Castro em 13/07/2012
Reeditado em 11/07/2023
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