As Árvores da Rodoviária
Aquele menino,
Com suas pequenas mãos estendidas
Sentado em um imundo chão
Entre o vai e vem da multidão.
Com seus grandes negros olhos tristes...
Mas ainda brilha em seu fundo
Uma luz de esperança
Seu franzino jeito
Suas poucas roupas sujas e descalço
Passam sem serem notados
Enquanto seu pequeno estômago reclama:
"Uma moedinha pro lanche, tia"
É o que seus lábios refletem,
A única coisa que, no momento,
De seu interior sai.
Sua voz fraca e dilacerada pela fome
Naquele chão frio, uma lágrima de seu rosto cai
Apenas mais um dia como o anterior
Sem ser aquecido, notado
Acalentado, acariciado, afagado.
Dormindo, desolado está.
Desqualificado como um nada
Tenta achar abrigo no mundo perdido
Não que seja amigo do Peter Pan
Mas se perdeu de tal maneira que não voltou mais...
Cansado daquela multidão que passa com suas gravatas e saltos
Perpassam por ele como se passassem por uma árvore...
Aquela que não dá flores nem frutos!
Como se solidificada na paisagem estivesse...
Inerte, insólita onde sempre esteve e como sempre estará!
Com seus troncos retorcidos e suas folhas secas,
Suas raízes tristes e solitárias,
Mendigam os pingos de água que restam na solo.
Ninguém a admira ou a elogia
Fadada ao esquecimento...
Até mesmo depois de sua trágica morte...
Todos acham tão normal que nem estranham a sua ausência
E quando uma outra árvore surge em seu lugar
Ninguém reparará às diferenças
Será apenas a mesma estória que se repetirá várias vezes.
20/10/2010