Da janela se vê...
pela janela eu vejo...
sons infantis gritando
toda uma cançoneta...
uns fazendo careta, outros zombando,
felizes, inocentes brincando...
vejo famintos vergonhosos,
vizinhos argilosos pra porta fechar,
rápidos para a face esconder...
e os famintos permanecendo famintos!
vovós ao telefone...
conversando com netos faltosos,
reclamando enfermidades eternas,
perdendo-se em longos discursos,
em angustiosas frases maternas...
casais se despedem no portão,
uns mais demorados, outros menos,
queimados de frondosa paixão,
e alguns ademais e outros ademenos...
um homem capina no jardim,
rega as flores da aposentadoria,
entre cravos, rosas, jasmins
pensa no tamanho da sua agonia...
a recém casada exibe o bebê nos mantos,
cheia de encantos do vindouro dia,
disfarça com maquilagem os prantos,
a preocupação da maternidade vinda.
da minha janela muito ainda se vê,
ao passo que vai caindo a tarde dominical,
vontades, perfumes, acenos,
tudo clichê, tudo ensaiado e tudo normal!