POEMA ANACRÔNICO
É tudo descompassado:
as cheias, as vazantes,
a voragem das sêcas,
o tempo dos amantes ...
É tudo em desalinho:
o avesso e o reverso
de um mundo desfigurado
onde só o que sobrevive é o verso...
É tudo descompensado:
desde as folhas que caem precoces
às chuvas que se ausentam
ante pêndulos velozes...
É tudo tão desigual:
a fome,o pão ,a sêde
e esse olhar no horizonte
onde o tempo tece a rêde...
E assim prosseguem os dias:
ergue-se o equilibrista em sua linha
e o artista expressa na tela
a esperança que deveras tinha...
Tudo em desacordo,descompassado
mudo,destemperado...
Só o verso subverte ,
para mudar o imutável...
MARCIA TIGANI_JULHO 2012