Monge tão Pirado

Estância-SE, setembro 2008.

Mais um janeiro em nossas vidas vem bailar,

Sambando sua cadência - meio trôpego o novo milênio!

A Era do sol, do fio dental curioso,

E do filtro solar que dorme ultravioleta.

Louvada seja a tecnologia apagando distancias!

Que em suas ondas ultra-magnéticas

Arrasta arcanjos neuróticos, plugando sua solidão nerdiana nas teclas on-line.

Eu, tu, vós, ele, ela, você... Nós cada vez mais sós!

Entre velas derretidas e flores no asfalto, a fé está a velar e a murchar,

Pela paz ou por um par...

- E velejamos nessa vida atroz!

O novo milênio já nasceu dentro dos nossos olhos vendados,

E o que vemos é mais um rio que se foi, mórbido, poluído e calado.

E vamos andando e vivendo, com braços, pernas, bocas e línguas...

Aceitando sacrilégios absurdos na ferida crua dos nossos desejos,

Sei que o futuro ainda vem, pois não fiquei satisfeito com a nostalgia de um samba feliz.

E enquanto viramos sacerdotes de martírios,

Há bambas disfarçados: lobo em pele de cordeiro parlamentando com o dinheiro!

E lá embaixo um homem todo roto parlamenta com a morte

No lamento da sua fome, cada vez mais "preta".

Não me vale muito viver em acentuar o errado,

Alimentar um sistema de um samba descompassado.

Durmo concentrado e incomodado com os acomodados.

Acordo atormentado por estar nisso condenado!

Me atravessa os espaços neuróticos essa filosofia injusta,

Que vem averiguar a redundante rotina de um hoje tão pirado.

De nada vale dizer, se estou certo ou errado.

Já tenho os ouvidos calejados no batuque desse samba harmonizado,

Sei também que sofro nessa penumbra em que os homens não se vêem,

Mas ainda acredito em Eu, em Tu, em Nós...

E não me entrego aos leões

E nem quero sentar no samba de alguns bambas conformados!

Meditarei!

Sim! Continuarei...

Nas minhas artérias fumegantes de observações

Cativando o olhar e palpitando o meu corpo para a transformação,

Com a redundante rotina de um monge tão pirado.

(Livro "Ponto de Partida" by Tarcísio Ramos/ Prêmio FESPOFALE 2009-SE)

Tarcísio Ramos
Enviado por Tarcísio Ramos em 22/01/2012
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