QUANTO VALE A VIDA?


Na noite escura e suja,
Sob marquises insensíveis,
Figuras humanas distorcidas
Tentam esconder a sua miséria.
O grito de fome da esquálida criança
É sufocado entre os seios murchos e ressequidos da mãe.

Uma prostituta geme o seu prazer barato
E o seu gemido fere os ouvidos da "classe alta",
Mas, preenche o vazio que mora na alma rota
Do homem que absorve a dose ofídica do falso amor.
.
Um vulto ébrio emerge das sombras, cambaleante,
Cantando a saudade de um amor que se perdeu no tempo.
Um idoso tenta se cobrir com um diminuto cobertor
Que não consegue aquecer o eterno frio que sente na alma.

Luzes intermitentes sinalizam que bocas, ávidas
De esperança, sugam com força o crack, a maconha...
Uma arma interrompe a caminhada do operário
Que ficou até mais tarde, no trabalho, fazendo serão.

Na porta do hospital, a gestante dá à luz, uma pobre criança
Que não vive mais que heróicos cinco minutos.
A mãe tem mais sorte: consegue resistir à sua solitária hemorragia, por alucinantes e eternos treze minutos.

Um tapa... um grito... um tiro... a queda...
O agonizante e inútil pedido de socorro!
Um som de oração quebra a inquietude da noite...
Ah! São freiras rezando para que o mundo seja melhor.

Movido pelo som da oração, pela força da tentação...
Um homem se esgueira nas sombras... invade o convento...
Escolhe a freira mais bela, que - atônita! - clama por Deus...
Seu grito extrapola as paredes e é levado pelo vento!

Ruas desertas... dores incertas... chagas abertas...
Sonhos inúteis... olhos insanos... perdas fúteis...
A aurora se insinua... ilumina a miséria enrustida...
Mas não consegue identificar o preço de uma vida!


Alexandre Brito - 22/11/2011
(*) Imagem: Google




Alexandre Brito
Enviado por Alexandre Brito em 22/11/2011
Reeditado em 23/11/2011
Código do texto: T3350488
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