Lá de cima
Do alto da janela a vida parece uma panela
Um prostíbulo na esquina
Pessoas em movimento cruzando a avenida
A vendedora de CDs abre um sorriso a cada venda bem sucedida
E mostra a imperfeição das cáries diante da sua freguesia
O mendigo cheira cola deitado num banco de praça
Enquanto as donas de casa passam com as compras
Sem notar nada
O mundo lá em baixo é assim
Poucos vêem e muitos não querem nem saber
Das coisas que vejo quase que diariamente
Nesta panela maldita que fervilha na fogueira das vaidades
Temperada com o sal da desigualdade social
Aromatizada com os condimentos da ignorância
E saboreada pelos donos da verdade.