E NÃO É PORQUE HOJE É SÁBADO...
Que eu selaria os meus ouvidos
Para o tudo que não pára de gritar
Sob o nosso manto cinza.
Retrato falado: Eu vi.
Uma flor acreditou que era primavera
E não demorou muito a sentir frio.
Logo a tarde, e já bem tarde,
Percebeu-se no solo errado sob equivocada estação.
É sempre assim: Flores são arrancadas sem piedade.
E não apenas porque hoje é sábado
Eu me omitiria de enxergar os jardins invadidos
A observar a estagnação das sementes roubadas
Antes que seus botões se tornassem vida.
Porque eu, simplesmente, as ouvi.
Não tenho como delas fugir porque
Sempre são genuína voz!
Eu tentei acreditar que
(só porque, a exemplo do *grande poetinha,
hoje também é sabádo!)
Todos os demais fechariam seus olhos
E igualmente abririam seus corações.
Porém há estágios que encarceram até a livre poesia.
Qual flor fustigada,
Foi assim que entendi
Que o hoje sem sentido
É o broto de ontem perdido.
Amanhã, quem sabe, num dia um tanto sem grife
E sem próposito claramente tão obtuso!
Todas as flores, aos poucos, retornem coloridas
Sob seu dilapidado solo
De de sol tão ofuscado...
Tudo só palavras ao vento!
Ao todo que não pára de gritar
Sob o nosso atual manto
De céu tão cinza!
Então, de repente...
Novamente será primavera
Sob o nosso mesmo teto,
Sobre o nosso mesmo chão.
Nota * Alusão ao poema "DIA DA CRIAÇÃO" de Vinícius de Moraes.