ENCHENTE

ENCHENTE

A chuva morna garoa nas letras em anarquia

O calor golfa teu hálito do solo fumaçado

Da minha cútis corre o líquido da fantasia

Ensopa o papel onde a caneta não faz seu traçado.

Estou surpreendentemente sereno

E do meu ponto de lotação,...

Vejo desesperos em profusão

Alagando-se por todo o terreno.

Vagarosamente um rio vai nascendo

A corredeira vai se fortalecendo

E eu, vou me esquecendo,...

Da paz que antes habitava este concreto veneno.

Mataram a terra, impermeabilizaram as vias...

Construíram nossas avarias

Destruíram nossas ferrovias

Nem mais ouço o canto das cotovias.

Autos perambulares trafegam flutuantes

Cometemos erros flagrantes.

Nossos lixos ilustram humanos em dejetos

Nos bueiros, há todos os tipos de objetos.

Os governos simplesmente governam para sua gente

Os pais não têm tempo para educar a sua semente

A tevê sensacionalista quer o recorde do ibope

No congresso todos brigam por gorjeta em envelope.

Há um descaso freqüente pela catástrofe iminente

Ano após anos contabilizamos nossos danos

E o contribuinte vira pedinte,...

De uma obrigação que é dever do Estado à população.

Não posso sair de onde estou

A inspiração não vai aonde eu vou

Preciso terminar o que comecei

Pouco me importa se me molhei

A enchente? Que comigo seja paciente

Pois sou inocente,...

Sou um apto eloqüente

Escrevendo a desgraça

De uma extinta raça.

CHICO DE ARRUDA.

CHICO BEZERRA
Enviado por CHICO BEZERRA em 19/10/2011
Código do texto: T3286413
Copyright © 2011. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.