MORTE VIVA

MORTE VIVA

Estou amando, estou abobado

... Serei pai.

Alegro-me vadiando

Bebendo ao filho esperado

..., A ressaca se vai.

O tempo corre parado

A mãe cuida da prenhez ansiada

A família une-se para o enxoval

Às vezes fico enjoado

Dispenso a feijoada

... Nove meses passando mal.

Fazemos planos para o futuro doutor

Viajamos... Pensando nos netos

Esquecemos de que vamos limpar muito coco

E que ele nos verá corretos.

Nós nos unimos cada vez mais

Corrompemos nuvens de felicidade

Tudo,... É nada demais

Vivemos nessa boa irrealidade.

Aos solavancos ensinamos o bem

Repletos de amor mimaram o neném

Irrelevamos que ele será pai também

Abraçará a responsabilidade que daí advém.

A criança, no tempo passa rápido

Na esperança se faz alento e ávido

Torna-se um menino impávido

Esforçava-se para me deixar pálido.

A mãe desrespeita a sensatez

Super protegendo-o toda vez

Ainda não sabe o que fez

Esta cegada pela iniqüidez.

Eu, trabalhador, abneguei de tua educação e ficava ausente

Mas sempre quando possível se me ia presente

Com outros olhos, vi meu filho diferente

No parco diálogo, vem-me o pressente

E a minha passividez ressente

Algo de errado, feito por mim no passado me arrepende.

Na adolescência adulta perde-se a paz

Então tento reeducar com sapiência

Quero trazer de volta àquele rapaz

Que é acima de tudo minha essência.

Na discordância dos pais ele se faz

As professoras perderam a paciência

O delegado encarcera o audaz

Toda nossa vergonha esta em evidência.

Seu comportamento se lhe torna voraz

Afligia-me nele a perda de toda inocência

É-me impossível, fiz-me incapaz

De combater tua deficiência.

Drogado, esbravejava loquaz

Armado, matava com eficiência

Bêbado, transformava-se mordaz.

Na selvageria de tua indolência

Misericordiava o teu breve aqui jaz

Vivia e culpava-me com essa iminência.

Ninguém mais conseguia domar o leão

A sua namorada agora é uma vã cúmplice

Incivilizados nessa aliança do mal

Apareciam procurados pela lei.

Nossa casa só era visitada à busca de valores

Toda porta e todo cadeado eram arrombados

No meu trabalho eu era afetado

Minha esposa caiu depressiva.

Alguns bons vizinhos

Consolava-nos caridosamente

As maiorias nos usavam como maus exemplos

Até a família se afastou.

Eu não mais caminhava... Alhures arrastava-me

A mãe transbordava de dor

... Inexistia a alegria

Os médicos se faziam constantes

Nossas receitas comprometiam o orçamento

Fugidia eram nossas vaidades.

Foi num domingo quando abri a garagem

Que o vi, ali, atrofiado com sua amante

Escondiam-se da malandragem

Evadir-se-iam naquele instante.

Queriam dinheiro e as chaves do carro

Diante da discussão que se formou

Do jardim sua mãe apareceu suja de barro

Implorando pediu-lhes para irem embora, e se ajoelhou.

No movimento maquinal,... Atirou na sua cabeça

Atônito, precipitei-me a socorrê-la

Tua cúmplice vociferou para que ele a esqueça

Isenta de fraternidade não conseguia entende-la.

Ergui a visão e o vi com a arma ainda flamejante

Seus olhos parasitavam mortos.

Agarrou um martelo e um pedaço de pau

E,... Esperei meu filho inconstante

A martelada deixou meus dedos tortos

Senti que ali, naufragava a minha nau.

Até que enfim,... .

Outro golpe estraçalhou minhas costelas

Afoguei-me no sangue que adentrava no pulmão

Não pedi clemência, e no ultimo momento

Vi minha cabeça pêndula esfacelar...

Sucumbia a hora de não sentir mais dor

Restava-me tão somente,... A violência calma.

Demorei a morrer

Tantas foram às pauladas.

Daqui donde estou

Procuro não esquecer

Que as lições são ensinadas

Pela vida que passou.

Mas,... Isso é o fim?

Enxergo meu jazigo sem velas

E meu filho na prisão.

Lembro-me de todo nosso provimento

Para esse rebento criar.

Entretanto hoje sei que não basta só o amor

É necessário despertarmos com ele,... A alma.

Se... Se dividissem os males da vida

A infância da humanidade

É a penitência maldita.

Não entendia porque vivia após a morte

Duvidava da minha incredulidade

Que tipo de vingança me traz essa sorte?

Desconhecido era-me esse lugar

Mas a harmonia se me fazia peculiar

Lembrei que esse livro,... Esqueci de estudar

Será que empoeirou engavetado, onde foi parar?

Um cara meio conhecido veio me chamar

Vestia uma túnica branca e dizia me amar

Cabeludo e barbudo queria me ensinar a rezar...

Então,... Era verdade, e eu não quis acreditar

Debrucei-me a prantear.

Peguei-o pela mão e implorei para não me rejeitar

Em minha fútil vida fui um ateu a pecar.

Fui perdoado e também aprendi a o aceitar

E na morte viva,... Vivo a chance,... De me perdoar.

CHICO DE ARRUDA.

CHICO BEZERRA
Enviado por CHICO BEZERRA em 05/08/2011
Código do texto: T3141692
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