Menino de Rua
Amanheceu! O sol me desperta.
O corpo doido pela dura calçada.
Os pés sujos pela terra pisada
Sem sapatos e sem nada, me fazem chorar.
Buzinas e gritos, ruídos de gentes
Que sempre ausentes passam sem perceber.
A fome é real, a sede é sem fim.
E o que fazer de mim se esquecido estou?
Brinquedos são latas catadas uma a uma,
Vendidas por nada para a fome matar.
Papeis são dinheiro, o lixo é um tesouro
A sede aumenta, o trabalho é duro.
A vida é a escola e a matéria é a dor.
E seja como for, não dá para fugir,
E para onde fugir?
Para outra calçada, outra terra pisada por sapatos de couro.
Preciso de alento, nem que seja um momento,
E só o cheiro da cola me faz esquecer.
Furtar não é bom, mas também fui roubado,
De um sonho acordado que a muito se foi.
Violências nas ruas, gangues se enfrentam,
Meninos se matam.
E eu preciso de um Pai!
Não com vara ou chicote, mas de braços abertos.
Um ombro amigo onde eu possa apoiar
A cabeça cansada sem esperança e sem nada,
Iludida que um dia tudo possa mudar.
Que da dura calçada, uma cama, um lençol,
Um sapato de couro, um chinelo de dedo.
E alguém que me diga que o amor ainda existe.
E alguém que me prove que o amor ainda existe.