FLOR MUTANTE
Um palanque discursa...
Mas...toda a vida encurta
Pelo rol das cidades.
Por aqui na Paulista...
Toda a vida enguiça
Pelo asfalto parado.
Há um grito homofóbico
Qual mais um terremoto
Que chegou lá de longe...
Um ardor na garganta
Aonde o tempo se espanta
Poluido de dor.
A fumaça que passa
Não é única desgraça
A ofuscar nosso horror.
E a pobre criança
Que rimava esperança
Afastou-se de nós.
Combaliu na calçada
Toda ensanguentada
Sem gritar sua voz.
Um bombeiro apressado
Pronto- responde ao chamado
pelo asfalto atroz,
Entre os holocaustos
(Deste mundo incauto!)
Que nos arrefecem a sós.
Tantas lutas de causas...
Sem ganhar uma causa!
Gritos embargam em nós.
Uma ambulância apita,
Aonde um corpo agoniza...
Não há mais consciência.
Outro órgão é doado,
Tempo tão demarcado
Nesta súbita ausência!
Toda a mídia domina,
Tudo e nada ensina
Não há senso algum,
Tudo é mera audiência,
Nada mais quer decência.
O político ao lado
Luta pelo seu cargo,
Mesmo sem excelência.
O suor é roubado
Povo dilapidado...
Entre tantas carências.
Todos sobressaltados,
Nenhum "deus" é rogado,
Nem a mão da ciência.
Tudo encomendado,
Para o povo embrulhado:
Toda a maledicência!
Mas...
Num descuido do asfalto
Outra flor muta aos saltos
Sobre a decadência.