O Corretor de Móveis

O Corretor de Móveis

Se não tem cidade é Arapongas, 21 de fevereiro de 2011 21h:33m

Passando pela Rua Águias

Havia um corretor de móveis

Mais preciso de pessoas, que por ali se moviam

E que de nada entendiam

Dona Joana, vinha e exclamava

“Como hoje o sol está quente!”

O corretor lamentava a ciência ausente

“Minha senhora, desde milhares de anos o sol sempre foi quente!”

E Dona Joana, muito repreendida

E pro sinal também constrangido

Com um sorriso amarelo (não só pela a expressão)

Foi embora e deixou o homem singelo

Seu José se aproximava

E a todos em sua vista contava

“Hoje vou subir lá para cima e resolver alguns problemas.”

Nosso corretor o corrigiu, e resolveu seus dilemas

“Senhor José” – disse ele- “Se o senhor subirá,

Concerta para baixo que não será.”

E tirando sarro daquele que o amola

Seu José nem deu bola

Mas se você pensa que viu de tudo

O pior ainda está por vir

Já que no caminho vinha dona Antonieta

Chata, ignorante (novidade) e ranheta

Ela virou para o Corretor de Móveis

“Diz que o senhor tá corrigindo todo mundo, num é?”

E ele com tua toda a educação:

“E quem é que disse isso então?”

“Todos tá dizendo.”

E ele responde com calma

“Então se são todos, o correto seria dizer ‘dizem que o senhor está corrigindo todo mundo não é? ’ Pois o verbo, dizem é conjugado no plural da terceira pessoa. No entanto se a senhora quer usar o plural para a quantidade de pessoas, devem também conjugar o verbo adequadamente. E também senhora, apesar de amplamente aceita, a forma abreviada do verbo estar para tá não existe. Então a senhora deveria—“

E ela interrompe sem nenhuma calma

“Inxiste sim, pois se o meu vô, desde sua época falava essa palavra e se todo mundo fala é por que ela inxiste sim, e eu provo para você.”

Ele nem ponderou, e logo já indagou:

“Como a senhora pode por ventura, provar?”

Ela responde “Por que tudu mundo fala.”

“Senhora, palavras não existem sem documento. Nenhuma palavra que não exista no dicionário aprovado pela Academia Brasileira de Letras, não existe na língua portuguesa do Brasil e sendo a senhora, falante nativa do português brasileiro, a senhora profere verbalmente uma palavra que não existe. Assim como uma pessoa, que vale muito mais perante Deus e perante a sociedade humana, não existe sem um documento de RG ou CPF ou certidão de nascimento, uma palavra não existe nem pode existir sem ser regulada ou sancionada e registrada no dicionário pela Academia Brasileira de Letras. Para concluir queria dizer que as palavras ‘tudu’ ‘inxiste’ estão erroneamente—“

Sem o menor aviso

Para o azar dele vem o prejuízo

Que é fruto de ignorância alheia

Recebendo o Corretor um tapa, da senhora, na orelha

Neste momento o olhar calmo, passivo e amável

Do duro, mas bom rapaz

Vira algo abrasador, queimante e flamejante

Que transpassava a luxúria, o fulgor de sua fúria

“Como usas me agredir que tudo o que tenho a oferecer é a saída da pobreza de seu vocabulário! Se você mora nesta vila abandonada e destruída é por que teve uma vida sofrida! “

E continuou

“Sei que de nada servirá o falar correto, e para mim tanto faz, mas agredir-me por te fazer o bem, isso jamais! Pois para pobres de espírito e vocabulário, só resta uma geladeira vazia e um quebrado armário.”

E desafiou

“Querem me agredir por sua ignorância, pois venham me desafiar, não irei recuar, nem tão pouco acovardar”

E ali se erguia uma revolta

Um sentimento de frustração geral

Voltadas não para o verdadeiro mal

Mas sim pela condição social

Na próxima edição, O Corretor de Móveis contra O Povo Ignorante

Onde a sabedoria e boa intenção de ajudar

Entra em contato com quem só quer saber de chafurdar

Não perca! Já nas bancas!

Continua...

Helder Henrique do Nascimento Peres 22h26

Helder Henrique
Enviado por Helder Henrique em 26/02/2011
Código do texto: T2816186
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