Sinfonia Urbana
Todos os dias ouço os instrumentos do concreto armado,
Ressoando por entre os prédios e as favelas,
Invadindo as portas, as cobertas e as janelas,
Tais instrumentos que produzem um efeito sincronizado:
Os trombones são representados pelos pesados caminhões,
Os violoncelos são expressos pelos veículos pequenos,
Os violinos projetam-se por meio dos gritos dos camelôs,
Os bandolins espelham-se pelas ferrovias e carrilhões.
Os pianos transmutam-se por meio das músicas dos bares,
Os clarinetes são os apitos dos vendedores de rua,
Os tambores expõem-se por intermédio dos carros de som,
Assim, a orquestra filarmônica percorre todos os lugares.
Eis aí composição que, ao invés de me relaxar, estressa-me,
Contemplem o universo sonoro que o homem escolheu para si,
Universo musical que não produz qualquer música, enfim,
Notas soltas e violentas que submetem-me e ressecam-me.
Todos os Direitos Reservados pelo Autor.