O Contador de Histórias

Veio num dia escuro daqueles que dão tristeza
Encontrou inseguros olhares baixados por trás da mesa.
Nos pratos água e farinha; nem alegria, nem norte.
Mas veio falar de vida de mundo modificado
Emprestou mil esperanças contando o que tem encontrado.
Veio dizendo que viu gente triste acalentada
Gente pobre bem cuidada e fome passando longe.
Viu crianças sorridentes de brilho no olhar contente
Vendendo saúde aos montes e aprendendo de tudo que há;
Que viu irrigadas terras onde a seca castigava
Que não tinham mais enchentes, que foi terminada a miséria
Ninguém mais se maltratava, eles tinham que acreditar.
E ali, a platéia muda boquiaberta e estarrecida
Mal segurava a saliva que lhe brotava na boca.
Gosto doce esse de vida de direitos aproveitados
Respeitados pelos homens, não por lei, mas por amor.
Dizia o moço que tinham que ter coragem,
Que não cansassem da espera porque tudo vinha chegando
Ali, na mesma viagem, por meio de que ele viera;
O comboio vinha atrás. Contou que correu na frente
Trazendo a notícia depressa no afã de vê-los contentes.
Platéia de olhares tristonhos que engole a saliva e sonha
Sorri agora entre dentes e começa a acreditar;
"É que sonho assumido, sonhado com veracidade
Alguém falou que de fato acaba virando verdade."
E agora os rostos marcados insistem desajeitados,
Pedem mais para alimentar, no peito, a chama o calor
Aplaudem e quase imploram: -Repete moço, repete!
Que com sorte há de ser verdade.

Fala outra vez, contador!