Trabalho

Eu ouvi um som

E esse som atingiu meu peito

Como uma flecha em chamas

Queimou e fez arder

Afinal, o que sou?

Apenas alguém que luta

Uma luta diária e sem sentido

Erguendo nos ombros o peso dos escombros

E para que? Para comprar algo

E fazer toda essa merda de roda girar

Enquanto a cada dia meus ombros mais e mais

Cedem pela hipocrisia

Enviada pela tv, propagandeada por marcas

E se tenta pensar, até isso já vem embalado

Ou é de esquerda ou direita

Comunista ou conservador

Tudo armazenado e embalado

Seja assim, use tais roupas

Calçe tais botas e não se esqueça do jeito

De andar e falar

Dizem que temos tantas opções

Mas no fundo o que fazemos senão ceder

Não é coisa de fraco, digo ao meu velho

Não sou um bebê chorão

Mas todo dia que levanto as quatro horas

Quando o sol nem sonha em raiar

E sinto de novo a mesma carga

Só penso em poder acabar logo com isso

Visto meu uniforme

E odeio o sorriso falso que preciso dar

Para convencer mais trouxas a rasgar seus bolsos

E relembro, preciso de grana para viver

Na merda da rotina saio em tempo

De comprar conhaque e entorna-lo

De virar e parar de pensar

Já foram mais de cinco hoje

Olho para meu copo

Imagino para onde está indo

Se é pelos sonhos afogados

Ou pelo cigarro apagado

Saio e acendo outro

Ao atravessar a rua um porsche passa por cima

Derrubado e ensanguentado

Sou apenas um número em algum jornal

Sim, você está certo

No fundo só o que importa é o braço

Só tenho a chance de me enquadrar e me tornar

Mais um herói da classe pisoteada e exigida

Exigida, e exigida

Sem obter uma resposta

Do porque tanto nos é retirado

Tsc, nenhum ser humano é um pobre coitado...

Vams
Enviado por Vams em 11/11/2010
Reeditado em 18/11/2013
Código do texto: T2610315
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