O que Atrapalha a Mulher é a Buceta (Sofrer é Bom)
Pra ínício de conversa, vamos acabar com esse negócio
de se assustar com o termo.
Primeiro, porque buceta tem o mesmo valor de lápis,
borracha, papel, bala de anis ou esponja de cristal,
sob o ponto de vista de se tratar de um substantivo concreto.
Por certo há ainda homens que se assustam com o termo,
hipócrita ou cinicamente.
Lembro-me do grande Tom Zé – certamente cínico,
mas não necessariamente hipócrita – que diz que se assustava
quando criança ao ver mulher nua...
E segundo, porque... Sei lá se tem segundo... Ou por quê...
O fato é que elas são um peso para a mulher.
A começar pela presença imperativa, mas inoportuna,
do ciclo menstrual; depois, as dores do parto
– só elas mesmas capazes de suportar;
a higiene necessariamente diária,
porque nem todo mundo vive na Europa
ou pode dar uma de Napoleão,
que sabia o que falar para a Josefina.
Afinal, ele era o Napoleão.
Depois, aquele negócio de abrir as pernas e ser invadida,
o que sempre cansa, dá trabalho,
além de provocar reações nem sempre favoráveis,
em que pese o necessário contexto em que deve se dar essa invasão.
A importância da conotação pecuniária,
que se manifesta sob os mais diferentes aspectos,
frequentemente ao longo de todo o processo
e promovendo a garantia da segurança a ser obtida,
ou a segurança como a necessidade de alguma garantia
de que o processo deva ter uma solução favorável.
Pelo menos a uma das partes,
o que tem feito alguns babacas mais apressados
cunhar a pavorosa expressão “quem gosta de pica é viado;
mulher gosta é de dinheiro”.
Que, apesar de tudo, ainda não se conseguiu provar o contrário.
Felizmente, porque “a caixinha redonda, oval ou oblonga de colocar rapé”
continua lá, insólita e absoluta, no seu panteão metafisicamente natural,
encerrando o doce mistério das sensações humanas e mundanas
mais despudoradamente disputadas pelos varões de plantão,
sempre dispostos a reconhecer que sofrer é bom.
Rio, 08/01/2006