A memória do relógio da igreja

A memória do relógio da igreja

O grande relógio da igreja

dos ponteiros mortos

adjacentes do tempo mouro

que de tanto tiquetaquear

caiu em sono profundo

traz em sua memória lembranças

Beatas vestidas de domingo

Biblia, terço e tudo o mais

O coroinha do púlpito distraído

olhando as pernas rosadas (virgens?)

O Cristo em cruz chorando

suas chagas o pecado expurga

O pecador no confessionário

hipócrita

sai com sorriso dissimulado

Na noite sobre as escadas

os namorados que a lua ilumina

seu olhar latente revela

todo o desejo imanente

O mendigo e a esmola diária

a caixinha de papelão precária

moedas jogadas com desdém

não valem mais que alguns vinténs

E a vida nas suas horas vai

minutos e segundos apressados

corre corre pela praça

em inópia vontade de tardar

o dia que insiste terminar.