Poesia que não tenho

Tristeza...

ainda que tivesse um papel em branco,

o que fazer com a poesia que não tenho?

Os nós na garganta são lembranças

de vontade e furor que não empenho...

Giz de cera sem colorir,

tantas faces brancas e mortes e manchetes de jornal...

Ah! quem dera que tivesse bom óculos,

maiores que minha ignorância e menores que meu sussurro...

Assim, poderia talvez copiar o erro,

baixar os olhos frente a mão que aperta o gatilho

da morte da vida, do belo, da mãe que amamenta...

e me sustentar frente aos meus medos...

Sou simples, não sou poeta!

é que tem uma voz que me envergonha,

me atiça a ser mais eu, mais devoradora de mim...

Nossa! quanta encenação...

Para me perder em sentimentos,

perceber verdades feias que são cuspidas poeticamente

no meu jornal, que eu comprei pela manhã,

me invadir de assombroso estranhamento em tudo consentir.

Oh! palmas! ainda consigo olhar o céu sem me comover,

sem derramar no meu jornal uma piedosa lágrima.

Tanto empenho assim só mesmo nos meus palcos,

ao fechar das cortinas e a chegada do breu.

Ainda sou simples e mortal,

tenho a face cansada de uma terça feira ainda vidoura,

e já é pesado demais alcançar um dia assim...

é sôfrego e cruel e necessário.

Observo uma vez mais a manhã,

antes que já não possa apreciá-la.

Depois paredes,arranha céus, montanhas,

nem nisso me reconheço mais!

roxie
Enviado por roxie em 25/03/2010
Reeditado em 13/08/2010
Código do texto: T2158882