AQUELA COISA

Puro objeto

Nunca notado

Se for chamado

É sobre pressão

Catando detrito

Apanhando dejetos dos grandes mortais

São cenas reais

Como em filme de horrores

Não sinto mais dores já me acostumei

Nas grandes cidades

Vive-se comprando

Nos shoppings da moda

Em que eu vou pra limpar

Eu limpo o esgoto

A cidade, a varanda

E a propaganda investe milhões

O ser humano de tanto comprar

Já se acha vendido

Já estou convencido

Não tem solução

Só sabe sorrir um sorriso forjado

Está sempre portando sacola na mão

Vai acumular lixo sem necessidade

Eu vi na cidade

Um mendigo sem pão

Enquanto o pobre sofre um bocado

Lá no Senado se gasta em rojão

Isso é o que alicerça o poder da miséria

Eu queria fazer uma grande explosão

Criar um mundo bem hospitaleiro

Fazer do dinheiro segunda opção

Tirar essa pedra que chamam de gente

Fazer um transplante

Dar-lhe um coração

A minha ciranda é ter que enfrentar

Morar na favela

Viver num cortiço

Elevador de serviço

Eu ter que usar

Pra não esbarrar

Na socialite e também no bacana

Por eu não ter grana e só trabalhar

Trabalho pesado

Sem ter recompensa

Só tendo a crença que Deus vai olhar

Olhar pra miséria que eu venho enfrentando

Às vezes em pranto me ponho a pensar

Porque quem usa o dinheiro que é desviado

Do pobre coitado, só vive a luxar?

Às vezes me pego também revoltado

Deus está ocupado e não vem me olhar.

Ao ver a miséria que ainda persiste

Será que ele existe? Eu vou questionar