CONTRASTE SOCIAL

Eu vi um homem comendo lixo

Estava barbudo parecendo bicho

Tamanha era a sua aflição

Agachava-se, ficava de pé

Carne estragada parecia filé

Na boca daquele cidadão

Vi uma mãe desesperada

Vendo os filhos na calçada

Chorando a falta de um pão

Vi um homem no meio do mato

Caçando cobra e lagarto

Para servir de refeição

Ouvi gritos na favela

Vi cenas de horror e miséria

Socorro a pessoas feridas

Vi homens de armas na mão

E a polícia em ação

Trocando balas perdidas

Vi uma família que chora e grita

A espera de um carro pipa

Aparecer no sertão

Vi o político de helicóptero

Acenar e falar a propósito

“Aguarde-me na próxima eleição”

Vi no bairro nobre da cidade

Uma pessoa esbanjar felicidade

Pensando apenas em curtição

Vi uma mulher da nobreza

Na fila de um salão de beleza

Para produzir o seu cão

Vi cenas que poucos agüenta

Um homem rasgar cédulas de cinqüenta

Duvidando da fé cristã

Vi mulheres o assediarem

O beijarem e abraçarem

Como se fosse um galã

Vi pessoas brincar com a sorte

Muitos desafiarem a morte

Outros viverem por viver

Vi jornais noticiarem desastres

Em meio a esses contrastes

Já não sei o que fazer

De um lado a fome total

Do outro lado o carnaval

Em um contraste sem fim

Deus me ouça um segundo

Tente consertar o mundo

A começar por mim