VITRINE (Comente)

ROTINA NO CAOS

Tenho pena do garoto

Parado no sinal

Pedido esmola

Implorando um real.

Tenho pena do trabalhador

Pai de família

Desempregado anda desorientado.

Tenho pena de todo dia ver a mesma cena.

Quem esta por cima esquece

Quem esta por baixo padece

E a miséria permanece

Como febre de quarenta graus.

VITRINE

Quanto custa teu desejo

O batom moldado em teu beiço

Quanto custa o gosto molhado de teu beijo

O choro no espelho quebrado do motel

O sexo enojando com o empresário viado.

Quanto custa as noites mal dormidas

O sexo pelo sexo para manter a faculdade de medicina.

Quando custa a dúbia realidade

Garotinha de programa que esconde a idade.

Vitrine de boy tirando de pati.

Quanto custa o silêncio em família

Pensando no filho deixado com a tia.

VÁ PARA O INFERNO

Colei os cacos

Juntei os trapos

Falei bocados

Senti-me vingado

Rasguei as fotos

Joguei aos ratos

Quebrei sete pratos

Não tive nenhum cuidado

Fumei dois maços

Chamei-te de puta

Chorei um bocado

Te olhei calado

Com a alma em farrapos

Sentir-me estafado

Cavei um buraco

Vá para o inferno

Ao lombo de qualquer diabo.

POUCO ME RESTA

Aperte a tecla

Pode ser a fode-se.

Não morro de amores

Nessa terra de cego.

Pouco me resta

Agora se apressa

Que horas são essas.

Meus neurônios dançam

Como piolhos.

Me olha no olho

Diz que me ama

E que não prestas.

Marcos Marcelo Lírio
Enviado por Marcos Marcelo Lírio em 26/10/2009
Reeditado em 28/10/2009
Código do texto: T1887048