VITRINE (Comente)
ROTINA NO CAOS
Tenho pena do garoto
Parado no sinal
Pedido esmola
Implorando um real.
Tenho pena do trabalhador
Pai de família
Desempregado anda desorientado.
Tenho pena de todo dia ver a mesma cena.
Quem esta por cima esquece
Quem esta por baixo padece
E a miséria permanece
Como febre de quarenta graus.
VITRINE
Quanto custa teu desejo
O batom moldado em teu beiço
Quanto custa o gosto molhado de teu beijo
O choro no espelho quebrado do motel
O sexo enojando com o empresário viado.
Quanto custa as noites mal dormidas
O sexo pelo sexo para manter a faculdade de medicina.
Quando custa a dúbia realidade
Garotinha de programa que esconde a idade.
Vitrine de boy tirando de pati.
Quanto custa o silêncio em família
Pensando no filho deixado com a tia.
VÁ PARA O INFERNO
Colei os cacos
Juntei os trapos
Falei bocados
Senti-me vingado
Rasguei as fotos
Joguei aos ratos
Quebrei sete pratos
Não tive nenhum cuidado
Fumei dois maços
Chamei-te de puta
Chorei um bocado
Te olhei calado
Com a alma em farrapos
Sentir-me estafado
Cavei um buraco
Vá para o inferno
Ao lombo de qualquer diabo.
POUCO ME RESTA
Aperte a tecla
Pode ser a fode-se.
Não morro de amores
Nessa terra de cego.
Pouco me resta
Agora se apressa
Que horas são essas.
Meus neurônios dançam
Como piolhos.
Me olha no olho
Diz que me ama
E que não prestas.